segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Entrevista a João Grave

“A Avenida Almirante Reis é, provavelmente, uma das artérias de Lisboa onde existem mais sem-abrigo”, afirma João Grave, o candidato e futuro presidente da nova Junta de Freguesia de Arroios. Destaca ainda: “Vamos ficar no centro de Lisboa com uma freguesia com dimensão muito razoável, que nos dará certamente um ganho de escala de eficácia e eficiência”. “Esta freguesia tem também um considerável património arquitectónico e um riquíssimo património humano”.

Com a reforma administrativa, com o aumento do território que vai gerir, não faz muito sentido falar-se de bicas e fontanários. É necessária uma estratégia global. Qual é a sua?
Face à situação do país de uma forma geral e da cidade de Lisboa em particular, não deixa de fazer sentido falar-se de fontanários e de cada um dos pormenores, mas certamente as pessoas são mais importantes do que o património, com todo o respeito que se tenha por ele. O património mais valioso é, sem dúvida, o humano.
A Avenida Almirante Reis é provavelmente uma das artérias de Lisboa com a problemática dos sem-abrigo mais acentuada. Ao longo dos anos têm-se procurado estratégias eventualmente menos eficazes, mas não se tem dado resposta ao problema, vão empurrando-o de um lado para o outro, camuflando-o até nalguns casos, mas não foi resolvido.

Tem solução para esse problema?
Não julgo que haja soluções milagrosas em absoluto. Temos alguns projectos que funcionam há algum tempo na Junta de Freguesia dos Anjos (uma daquelas que se irá agregar com S. Jorge de Arroios e com a Pena, que formarão a nova Freguesia de Arroios) que visa o conhecimento de cada um dos sem-abrigo, ou seja, eles deixam de ser um sem-abrigo, passam a ser o José, o Carlos, a Manuela. Qual a razão do José estar na rua? E como foi lá parar? Há quanto tempo? E que patologias sofre? Que qualificações tem, a partir das quais se possa trabalhar para ter uma nova vida. São precisos novos projectos de vida de acordo com as capacidades de cada um, com a motivação própria, mas só depois de se atacarem as diversas patologias, como o alcoolismo, a toxicodependência, muito frequentes nesta população.

A sua nova freguesia vai ficar bastante maior, dimensionando o problema da higiene urbana.
É verdade. Não temos recursos humanos e vemos com alguma expectativa quais vão ser os recursos a transferir pela CML. Confesso que algumas áreas das novas atribuições não me parecem absolutamente claras, nomeadamente a dos espaços verdes. Não sei quais são os jardins que ficam sob responsabilidade da nova Junta de Arroios. Dou-lhe o exemplo do Jardim Constantino, que é municipal. Não sei! Sei é que não abundam jardineiros na CML. E também não sei, para lá dos recursos humanos, quais serão os recursos financeiros. Há pois uma série de situações que urge clarificar porque continuam dúbias.

Na higiene urbana, esta zona não é das mais limpas da cidade...
Não, não é de todo. O eixo da Almirante Reis novamente, mas toda a área desta futura freguesia, com excepções, padece de uma falta de higiene manifesta. É uma das grandes preocupações da população, e é onde nós apostamos que a reorganização das freguesias nos pode trazer mais-valias concretas e visíveis.

Caracterize o positivo e o negativo da freguesia.
Começando pelo negativo, há uma necessidade premente de olhar para os edifícios degradados, que são muitos, e alguns ameaçam mesmo a ruína. A questão dos sem-abrigo é para nós uma urgência e também o défice extremo de estacionamento que esta zona tem, devido a um projecto de urbanização muito antigo que não previu o que é actualmente o parque automóvel dos residentes e trabalhadores.
Do lado positivo, temos um riquíssimo património arquitectónico, temos a centralidade de Lisboa. Vamos ficar no centro de Lisboa com uma freguesia com uma dimensão muito razoável, que nos dará certamente um ganho de escala de eficácia e eficiência. Gostaria também de salientar, talvez acima de tudo isto, o património humano. Há pessoas muito diferentes, de muitas religiões e nacionalidades, mas dado haver uma harmonia no convívio entre todas essas pessoas, elas potenciarão no futuro um desenvolvimento desta zona da cidade que tem um enorme potencial turístico por revelar.

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